terça-feira, 8 de outubro de 2013

A Clarinha



Esta história tem 35 anos, que é a idade que tenho, e não me lembro da minha vida sem a Clarinha. A clarinha e eu somos do mais diferente que pode haver, eu sou a despachada, faladora, impulsiva, egoísta, extrovertida, a independente, e ela a ponderada, a tímida, a altruísta, a mulher de família, mas sempre, sempre nos entendemos, sempre nos respeitámos na diferença.
Quando eramos pequenas vivíamos em casa uma da outra, jogávamos às escolas na garagem dela e ela era sempre a professora, ajudávamos a mãe dela e os meus pais no que nos era pedido, corríamos a rua de bicicleta, ajudávamos os rapazes a fazer jangadas no ribeiro. Quando começamos a crescer a nossa cumplicidade triplicou, jogávamos crapeu tardes de domingo inteiras e dançávamos em discotecas AC/DC e Guns, eu descobria o número dos rapazes giros que podiam ser interessantes para nós, só que eu era a menina feinha e pau de virar tripas e nenhum rapaz me queria mas eu nunca senti ciúmes, nem inveja, nem nada, apenas a ajudava a arranjar o melhor partido. Um dia, numa festa da aldeia, fomos dar uma volta à aldeia com os rapazes, os pais dela descobriram e proibiram a nossa amizade, por eu ser uma má influência. A nossa revolta foi tão grande que passados 2 dias já não nos largávamos. Aos 17 anos ela conheceu o amor da vida dela, e eu liguei para uma aldeia inteira e descobri o número de telefone dele, a história de amor deles têm já hoje outros 17 anos e dois filhos.
Quando ela entrou num ensino superior (um ano antes de mim) fiquei feliz como se se fosse eu, e nesse ano vibrei como uma caloira. No ano seguinte fui ter com ela, e vivemos juntas 4 anos, quatro lindos anos em que fizemos limpezas à meia noite, em que vivemos Coimbra em toda a plenitude, em que fomos amigas e doutoras na cidade mágica. Também ouve dias tristes nessa cidade, e num deles ela deixou-me a mensagem mais importante e mais mágica que uma amiga pode deixar, uma foto do nosso grupo de amigas, para me lembrar que estaria sempre lá para mim quando eu precisasse, que estávamos todas no mesmo barco.
Quando voltámos de Coimbra para Leiria e ela casou, eu fui a madrinha, num dos dias mais lindos da minha vida, acho que num mundo tao duro é bom saber que podemos contar com alguém que partilha todos os momentos, em que sabemos que não há críticas, nem julgamentos.
A vida afastou-nos apenas 8 Km e na verdade a nossa diferença de personalidade observa-se hoje na vida que escolhemos, gostamos de fazer coisas diferentes, temos famílias diferentes, gostamos de estar em sítios diferentes, mas a nossa união vai para muito para além destes pormenores. Eu sinto uma grande presença da Clarinha na minha vida, seja quando lhe mando uma mensagem a perguntar pelo meu afilhado lindo, seja quando passo uma noite inteira sem dormir porque o filho dela esta internado no hospital, quando ela me envia uma mensagem, no momento em que preciso, a dizer que gosta de mim, quando acordo de noite a pensar no que poderia fazer para a ajudar na vida profissional, quando lhe tento passar toda a minha energia positiva, quando sei que por muitos anos que viva nunca haverá uma amizade como esta.
A minha mãe sempre adorou a Clarinha, pois era muito calminha, recatada, sempre penteada e vestida de forma exemplar e nós sempre nos rimos muito disso. Não havia nenhum dia de festa em que a minha mãe não dissesse: “A Clarinha ia tão linda, sempre tão bem vestida” , ainda hoje a minha mãe de vez em quando, solta um: “ O cabelo da Clarinha está sempre impecável”
Há uns anos atrás, em que estava separada do seu amor, a Clarinha ansiava pelo fim de semana para ser feliz, a semana tinha sete dias e ela aguardava pacientemente pelos seus dois dias de felicidade… passados tantos anos só gostaria de lhe dizer que eu- a sua amiga de sempre, acredita que é possível ser feliz todos os dias e que nunca devemos desistir de lutar por essa felicidade .E que eu, mais longe ou mais perto, estarei sempre aqui na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida!

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